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Sobre clássicos, best-sellers e gente almofadinha



Já faz um tempo que eu quero escrever algo sobre clássicos. Essa necessidade ganhou mais força depois de um vídeo do Literatortura denominado: “Não Leia Best-Sellers”. Aliás, um parêntese antes de começar a discussão: eu já sabia que não era um vídeo apologético a não-leitura dos best-sellers, mas apenas uma forma de prender a atenção de quem o visse. Agora, quando eu compartilhei, o que teve de gente me jogando indiretas sobre ser “arrogante” por não querer/gostar de best-sellers, honestamente, foi de rolar de rir. Sabe de nada, inocente (WASHINGTON, Cumpadre. 2014). 

Enfim, quem me vê comentando em blogs alheios e até mesmo aqui, sabe que eu sempre dou minhas alfinetadas nos clássicos. É mais forte do que eu, ou pelo menos era. Quando eu via alguém caindo de amores por Machado de Assis então, ficava verde de tanta náusea que me causava. Como alguém podia achar um cara de escrita travada e seca como ele “lindo, perfeito, meu escritor preferido”? Eu tentei ler Dom Casmurro (versão original e de texto integral, por favor) umas duas vezes e olha... Não rolou. Mas isso não foi exclusividade do Machado não, aconteceu a mesma coisa com quase todos os clássicos que todo mundo morria de amores: José de Alencar, Mark Twain, Dostoievski, Tolstói, Victor Hugo, Dante Alighieri, Franz Kafka, Virginia Woolf entre outros.

Talvez os únicos que tenham escapado a sina foram Bram Stoker, Jane Austen e Gaston Leroux. De resto, eu criei uma aversão indiscriminada por clássicos por nunca conseguir avançar na leitura deles e acha-los coisa de gente almofadinha. 

Hoje, refletindo sobre isso, eu tenho duas boas razões que legitimaram esse meu movimento “aclassicismo”.

1. Clássicos viraram sinônimo de obrigação. Eu era obrigada a ler porque bem, eles eram clássicos e todo mundo lia (assim eu acreditava).
2. Havia um endeusamento nas obras literárias que eu acreditava ser apenas porque eram antigas. “Se Dom Casmurro fosse atual, aposto que tinha montes de gente reclamando do livro ser chato pra caramba!”, minha opinião.

Mas hoje, não sei se é porque eu ando me cansando do “mais do mesmo” que circunda o mercado literário – sim, mesmo as distopias tão ficando repetitivas -, ou se eu tenha finalmente chegado na maturidade para querer decifrar o que faz desses caras tão bons como todo mundo e a história diz que são, mas andei tendo uma vontade de ler clássicos. 

Esclarecendo aqui, pra mim o que importa em um livro é a conexão com o leitor, então não consigo seguir esse pensamento binário de que o moderno, o best-seller, só porque é para as “massas” é pobre e vazio, e isso pode ter contribuído muito para a minha aversão aos clássicos, por eles representarem tudo aquilo que seria o “bom” de acordo com essa linha de pensamento. Como eu não conseguia me entender com eles me sentia uma inútil.

O ponto é que eu ando tentando mudar minhas opiniões sobre clássicos. E até então, estou sendo muito surpreendida. Quando consigo me prender na leitura, vejo que ela é realmente rica. Que existe uma ironia ou então uma reflexão em determinadas obras que são verdadeiras obras-primas do entendimento humano. Mas não serei hipócrita a ponto de ficar fazendo apologia aos clássicos porque eles são clássicos. Eles são chatos sim. São densos, tem uma linguagem difícil por conta do vão histórico-linguístico (e até mesmo cultural), mas não são impossíveis ou inacessíveis. 

E o mais importante: lê-los não torna ninguém superior a ninguém, viram almofadinhas de plantão?

Eu não vou me prolongar mais na discussão, mas sugiro muito que vocês vejam o vídeo do Literatortura sobre best-sellers. Ele samba na cara desses ditos-cujos que me fazem desgostar de clássicos pela postura pomposa, e também são um contraponto a questão de que só clássico é que presta.





Obs.: Tinha parado com esses posts de discussão por aqui porque sempre tendo a ser prolixa, mas se vocês gostaram, comentem que eu farei mais! :)

3 comentários:

  1. Os clássicos não são "chatos", eles apenas tem uma linguagem mais complicada, como você disse (e nem todos, aliás; inclusive sempre achei Machado o mais bacana de ler, desses clássicos que a escola/vestibular nos obrigam foi um dos poucos que eu de fato li hahahahah).
    Eu fui atrás de ler os clássicos por livre vontade, mas eu li APENAS os que me interessavam. Não vou ler Dickens porque é clássico, sinto muito, nada dele me atrai - eu acho que essa "obrigação" (não das escolas, mas da 'sociedade' mesmo) é que são irritantes. Mas eu acho interessante que as pessoas leiam um pouco de tudo, pra conhecer, porque ficar só nos clássicos não é legal (passei por isso e corri atrás dos livros mais novos depois pra me situar), assim como ficar só nos best sellers também não.
    Eu até pensei em fazer um post de sugestões de clássicos mais interessantes pra quem não tem costume de lê-los, mas achei que eu passaria por arrogante hahahah O que você acha da ideia?
    (Desculpa o comentário gigaaaante! hahahaha)

    http://sobrelivroseletras.blogspot.com.br/

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  2. Hahahahahaha ai eu e Machado é uma história muito complicada ><' mas é, o que eu descobri quando parei pra pensar e escrever esse post foi que, boa parte dos meus preconceitos em relação aos clássicos se originaram menos de tentativas seriamente frustradas de lê-los, e mais por conta das pessoas e de todo o endeusamento que recaem sobre eles. Eu já ia ler pronta pra me entediar, ou seja, sem nem dar chances pra obra! É claro que nunca avançaria na leitura...
    E olha, acho super válido você fazer um post de sugestões! Não acho que seria arrogante não! Tem gente que quer começar e não sabe nem por onde, porque são muitos! ^^

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  3. Eu sempre gostei de alguns clássicos ao mesmo tempo que discriminava outros, principalmente por toda essa gente pseudo-culta que tem por aí se achando melhor do que todo o resto. Eu sou filha de uma professora de português e redação e sempre fui muito incentivada a ler e olha que aqui nessa casa o que não falta é livro, inclusive tem muitos clássicos adaptados para o público infantil e juvenil porque minha mãe é professora do fundamental menor. Então, meu primeiro contato com Shakespeare e Sir Arthur Conan Doyle foi através dessas adaptações e eu adorei, só de uns dois anos pra cá foi que finalmente comecei a ler as obras na íntegra (e sou viciada nas histórias do detetive mais lindo de Londres hahaha). Quanto ao Machado de Assis eu não tive uma relação muito boa com ele e devo culpar o sistema educacional daqui, pois somos obrigados a ler esse tipo de obra "mais avançada" num determinado ponto escolar em que não estamos preparados para entender toda a riqueza de vocabulário e contextos, o que acabou me deixando confusa e com raiva. Mas aí se eu digo que não sou muito fã de Machado já vem milhares de pessoas me jogando pedras e reclamando que não valorizo a cultura nacional e que não posso ser considerada essa leitora assídua e apaixonada. Pera aí, então só sou apaixonada e assídua no mundo dos livros se eu vangloriar clássicos? me poupe! A maioria dessa gente deve ter lido no máximo uma obra completa e se acha no direito de sair criticando quem lê de tudo um pouco.

    Jane Austen é uma paixão muito, muito antiga e sou colecionadora de suas obras, realmente gosto da ambientação e da narrativa dela. Desde que assisti Ana Karenina que fiquei morrendo de vontade de ler o livro do Tolstói e se, após a leitura desse eu gostar, quem sabe eu vou atrás de outros.


    Quanto a Best-Sellers eu prefiro não comentar, qualquer livro meia boca se torna um hoje em dia, o que gera isso é a procura e não tem nada a ver com ser melhor ou pior que outros livros.


    Acredito que todo mundo deve ler um pouco de cada coisa, porque só assim se pode formar uma opinião e sair discutindo seus pontos de vista. Se uma pessoa sempre ler as mesmas coisas ela tem mais é que ficar na dela, restrita apenas a rodas em que o assunto seja o único que ela conhece - ou acha que conhece.


    Enfim, desabafei legal nesse comentário gigantesco, hahaha. Mas é porque achei o assunto bem interessante (e polêmico), não podia deixar de participar.


    Beijo :)

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